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Deadline maldita


A deadline é meu bicho de sete cabeças. Sempre que me deparo com alguma é tiro e queda: meu sistema criativo para, erro 404. Nenhuma ideia boa passa pelo meu campo de imaginação. Olho para a tela branca do Word por minutos, horas até, e nada acontece. É como se tudo se distanciasse de mim em pró da procrastinação.

Procrastinação de quinta categoria, aliás. Se ao menos conseguisse passar esse tempo assistindo filmes ou colocando as séries da Netflix em dia, mas nem isso eu consigo. Fico apenas deitada em minha cama à espera de um milagre, buscando no mais profundo de meu inconsciente qualquer lembrança que possa servir de referência, em vão.

Entrego-me. Vou à cozinha, como alguma porcaria gordurosa que vem a sujar meus dedos, manchar a roupa, lambuzar todo o chão, mas a mente continua limpinha, limpinha. Um grande, enorme, imenso vácuo. Mas que escassez detestável, situação abominável, danada que me atormenta até no sono.

Misericórdia, essa nuvem sobre minha mente é um pesadelo, uma ameaça ao meu cotidiano de aspirante a escritora. Nem linhas tortas e rabiscadas, nem um mísero rascunho sequer. O prazo final se aproxima, mas não adianta desespero: piora.

Dias.
Noites.
Semanas, talvez.

Último dia para a entrega. Já havia desistido, obviamente. Não tive a capacidade de escrever durante vinte e seis dias inteiros, quem diria que no último dia eu seria capaz de fazer algo, então? Mas a vida me mostrou o contrário, acreditem. 

Meio-dia e meia, durante meu banho e pouco tempo após acordar, estava discutindo mentalmente sobre algumas questões que rodeavam minha cabeça nesse dia. De súbito, bate uma ideia. A lâmpada repleta de teias de aranha se acende pela primeira vez em semanas, a melhor ideia de toda a minha vida, penso.

No susto, correria. Nem arrumo a cama e já vou direto para o computador, na cozinha mesmo e em meio ao almoço, um pastel de frango com cheddar. Preciso depositar essa tão deseja luz recém-chegada antes que ela parta para longe mais uma vez.

Linhas e mais linhas são preenchidas uma atrás da outra, palavras enfileiradas com um mínimo de coesão e coerência. Aos poucos o texto nasce, é decepado, reajustado e lentamente se transforma na obra final. Ah, fruto de sofrimento, como és belo. Que prazeroso poder desfrutar de todo seu conteúdo e sua forma, como sou grata por agora existires.

Satisfeita como nunca antes olho vitoriosa para o calendário, acesso o site de envio rezando para que as inscrições ainda estejam abertas. Ué, mas o site não quer abrir? O que está acontecendo? Mas nem o Google está abrindo... ah, droga. A internet caiu! Corre até o quarto para reiniciar o roteador, mas de nada adianta, aliás.

Não vai dar tempo.

Não vai dar tempo.

Será que as inscrições já fecharam?

Não vai dar tempo.

Não vai dar tempo.

O SINAL VOLTOU!

Pressiona o F5 como nunca antes o fizera, após alguma espera o endereço abre. Que agonia! Que felicidade! Anda, anda, inscreva-se logo, antes que a rede caia novamente. Pronto, tudo resolvido. Que maravilha, que maravilha!

Ah, mas que dor de cabeça.
Que deadline maldita!

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