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As três artes de “O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares”


Miss Peregrine's Home for Peculiar Children, ou O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares, como foi traduzido no Brasil, é o romance de estreia do escritor Ransom Riggs, lançado em 2011 nos Estados Unidos, que chegou ao Brasil um ano mais tarde pela editora Leya e, em 2016, foi relançado pela Intrínseca.

Narra os acontecimentos vividos por Jacob Portman, 16 anos, que vai a um orfanato abandonado no País de Gales a fim de descobrir a veracidade das histórias que lhe eram contadas por seu avô, homem que fora misteriosamente assassinado por uma criatura desconhecida.

Tais histórias duvidosas contam sobre um lar de crianças com habilidades peculiares, como levitação, super-força e invisibilidade. Escondido de tudo e de todos, revela-se como verdade, mas o velho casarão apresenta-se em loop, revivendo diariamente o 3 de setembro de 1940, data em que a ilha fora bombardeada por forças alemãs da II Guerra Mundial.

Incansavelmente, todos os dias antes que a explosão destrua o orfanato e mate a todos que vivem nele, uma fenda de tempo criada pela Ymbryne srta. Peregrine se reinicia e os protege do fim. Assim, sempre vivem o último dia de suas vidas, sem o fim realmente alcança-los. A narrativa segue acompanhada por fotografias vintage, mas a ordem da criação é outra.


O livro, primeiramente, tratar-se-ia apenas de uma coletânea de imagens que Riggs, colecionador, havia coletado. Um editor da Quirk Books, que originalmente lançou sua obra nos EUA, aconselhou-o a usar as fotografias que possuía para criar uma história acima delas. Como não eram tantas as imagens que tinha em mãos, acabou recorrendo a ajuda de outros colecionadores que lhe emprestaram material suficiente para a criação do enredo.

No resultado final, as imagens representam mais que simples gravuras para tornar o livro atrativo aos olhos, como na maioria dos casos, mas pistas que guiam toda a narrativa, auxiliando o protagonista a descobrir sobre o passado de seu falecido avô e tornando as características dos personagens ainda mais vívidas ao leitor.

O encontro entre a literatura e a fotografia já é surpreendente e significante por si só, mas recebe em 2016 o apoio da sétima arte para dar mais luz ao romance de Riggs: o cinema.

Com os direitos da obra vendidos para a 20th Century Fox, Jane Goldman adapta o livro para um roteiro que viria a ser dirigido por Tim Burton, que já havia comentado seu interesse na obra. O elenco principal fica sob as atuações de Asa Butterfield (“O Menino do Pijama Listrado”, 2008) como Jacob Portman e Eva Green (“Sombras da Noite”, 2012), interpretando a Srta. Peregrine. No Brasil, o pôster oficial do filme vem com outra tradução: O Lar das Crianças Peculiares.

Ao fim do livro, há um sumário com informações básicas a respeito das imagens utilizadas ao longo da narrativa, e mesmo em sua adaptação audiovisual é possível perceber a importância que as imagens coletadas possuem sobre a obra, uma vez que os personagens apresentam grande semelhança física com os modelos fotografados no século passado.  


A fotografia à esquerda, por exemplo, recebe o nome de “Bailarinas comendo” e faz parte da coleção de Robert Jackson, americano nascido em 1934, mas não há registros, entretanto, de quando a foto tenha sido tirada. O entrelaçar dos antigos registros fotográficos com o enredo criado pelo autor se dá nos novos elementos que adota para as personagens.

As bailarinas de nome desconhecido viram Joseph e Thomas Odwell, e embora seus nomes são citados apenas no filme, os gêmeos conseguem trazer tanto para a grande tela quanto para as páginas da obra literária a mistura exótica de terror e fofuraA descrição física destes personagens aparece no capítulo dois do livro:

E, como se essas imagens não fossem bizarras o suficiente, as outras duas pareciam saídas de pesadelos de David Lynch: uma mostrava uma menina contorcionista, triste, dobrada para trás de modo assustador; a outra trazia gêmeos de aparência esquisita, vestidos com as fantasias mais estranhas que eu já havia visto. Até meu avô, que tinha enchido minha cabeça com histórias de monstros com tentáculos no lugar da língua, era sábio o bastante para perceber que imagens como essas provocariam pesadelos em crianças.

Enquanto no livro, como exemplificado acima, não é dito muito a respeito de suas peculiaridades, no longa apresentam a capacidade de petrificação. Explora-se de recursos como maquiagem e efeitos especiais para valorizar os novos aspectos adotados aos irmãos pelo novo roteiro. Esse adicional torna possível abraçar intertextualmente seus poderes, uma vez que tais habilidades são semelhantes a de Medusa, da mitologia grega.

Assim, não fica difícil perceber o quão bem trabalhada é a obra. Seja em sua criação original, seja no processo de adaptação para o cinema, é perceptível o cuidado ao misturar textos (inclusive visuais) a fim de torna-lo em um único produto. O peculiar encontro dessas três artes faz-se, por fim, de muito bom senso e qualidade.

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