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Uma Coisa Absolutamente Fantástica: robôs, política, obsessão pela fama e dramas juvenis em um único e incrível livro


Hank Green (este sobrenome lhe parece familiar?) fez sua estreia como autor com a obra de ficção científica Uma Coisa Absolutamente Fantástica. Lançado em 25 setembro de 2018 pela Dutton, nos Estados Unidos, e simultaneamente no Brasil pela Editora Seguinte, que cedeu ao Elfo Livre um exemplar do livro, apresenta uma história extremamente envolvente sobre uma jovem que se torna celebridade sem querer ao envolver-se no maior mistério da história da civilização humana - e até mesmo extraterrestre. 

April May, uma jovem na casa dos 20 anos, vive uma vida tão entediante como a de qualquer outra garota de sua idade e não esperava que as coisas fossem mudar tão drasticamente após encontrar a escultura de um robô de três metros de altura em plena madrugada nova iorquina. Sem saber do que se tratava, convida seu amigo youtuber, Andy, para gravar um vídeo sobre essa obra de arte e viralizam na internet, mas logo se vê no epicentro de um mistério ainda maior do que a origem desta escultura quando outras sessenta e três peças idênticas foram instaladas pelas cidades mais populares do mundo, incluindo São Paulo (adoro quando citam o Brasil nos livros).

Por ter sido o "primeiro contato" com essas coisas misteriosas e não identificadas, April acaba por ganhar a atenção da mídia, e com ela vem as preocupações com sua imagem, identidade, segurança, relacionamentos e todas as outras desgraças que a fama traz, mas com um problema muito maior por trás de tudo isso: qual a origem desses robôs e o que eles querem na (ou da) Terra? 


Nesta narrativa que mescla aventura e ficção científica, as coisas se intensificam quando os robôs, até então aparentemente inofensivos, começam a interagir indiretamente com as pessoas por meio de sonhos enigmáticos cuja resposta parece cada vez mais distante, mas não falta o bom e velho drama juvenil quando, em meio a tudo isso, April se vê cada vez mais perdida não só em problemas governamentais de nível possivelmente intergalático, mas no buraco negro que suas relações pessoais se tornaram - a ponto de confundir sua própria identidade: é uma humana ou uma ferramenta?

April, bastante impulsiva, nem sempre toma as melhores decisões, mas é justamente isso que a torna humana, embora ela tenha dificuldades em perceber: é nesta personagem de ações erradas, impensadas e imprudente que toda a crítica do livro será desenvolvida, com base em um pensamento bastante contemporâneo sobre como a fama, a obsessão pela mesma e o poder de fala mudam as pessoas, assim como as redes sociais mudam conosco.

Seja por escolha da própria April, das condições a ela impostas ou em uma mistura das duas hipóteses, o que esperar de alguém que nunca soube como se relacionar com as pessoas, incluindo sua namorada, May, e que de repente se vê sob os holofotes de todo o mundo, com milhões de seguidores nas redes sociais e falando à televisão como a representante de uma comunidade que acredita que os Carls (como foram apelidados os robôs) estão aqui em paz e não devem causar medo na população? April humanamente não sabe lidar com isso, mas não em tempo para surtar pois há um mistério a ser resolvido.


Medo é outra palavra chave: quando a retórica entra em cena para que April consiga defender sua tese de defesa aos Carls, surge uma figura de oposição, Peter Petrawicki, representando o conservadorismo e argumentando em cima da proliferação de uma sociedade do medo onde tudo o que é diferente precisa ser eliminado. O livro ganha um tom bastante político e necessário no qual você precisa escolher o seu lado, mas não antes de se questionar e botar na balança as acusações ou defesas extremistas que partem de todos os lados. E ainda dizem que não se pode misturar literatura e política, risos.

Neste clima praticamente distópico, Hank Green distancia-se bastante de seu irmão (já pensou sobre esse sobrenome? sim, é o irmão de John Green, autor de A Culpa é das Estrelas e outros romances juvenis) ao criar um perfeito suspense com bases químicas, científicas, computacionais e mesmo aeronáuticas que jamais veríamos nos livros de John. Mesmo este sendo o primeiro livro de Hank, o autor já deixou bem claro que não quer ficar às sombras de seu irmão e que seus materiais são extremamente diferentes, sem espaços para comparações desnecessárias - e isso é excelente.

Assim, Uma Coisa Absolutamente Fantástica prende o leitor do começo ao fim com uma proposta de narrativa inicialmente difícil de acompanhar e que deixa altas expectativas, mas que cumpre com o prometido e entrega todas as respostas necessárias - somente as necessárias, porque um bom suspense é aquele que dá margens à criatividade do leitor mesmo quando o livro se fecha. Pode até demorar, mas se Hank Green lançar um novo livro nos próximos anos, já sou a primeira na fila para comprá-lo com a certeza de que será uma ótima obra. Tem autores que te cativam logo na primeira palavra e não há nada que se possa fazer a respeito. Esse é o caso.

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