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O Urso e o Rouxinol: feminismo e folclore russo em imperdível narrativa fantástica


O Urso e o Rouxinol, romance de estreia da autora norte-americana Katherine Arden, que morou por dois anos em Moscou, traz o perfeito encontro de populares obras como Crônicas de Gelo e Fogo e Mitologia Nórdica ao folclore russo em uma narrativa de aventura medieval, fantástica e feminista. 

Acompanha-se a jornada de Vasya, nascida no inverno e criada num vilarejo próximo de uma floresta, onde cresceu ouvindo contos e lendas sobre criaturas que vivem de oferendas em troca de proteção. Quando Anna, sua madrasta, e um padre ortodoxo chegam da capital com seus costumes católicos, mudando as práticas religiosas da região e a rotina dos moradores, catástrofes tornam-se iminentes.


Vasya, com sua forte crença nas criaturas da florestas, única capaz de vê-los e de conversar com eles, terá em suas mãos a oportunidade de salvar seu povo da destruição, mas muitos obstáculos serão colocados em seu caminho quando os cristãos, ao relacionarem-na com bruxaria, passam a persegui-la e condená-la quando tudo o que queria era ajudar seu povoado e ser livre.

A narrativa da protagonista lembra em muito as histórias americanas de caça às bruxas, quando mulheres que não seguiam as práticas cristãs ou manifestavam comportamentos estranhos tornavam-se alvos. Ao lutar por seu povo, mesmo com todos contra ela, Vasya ainda luta por si mesma, por seus direitos, por sua liberdade, e contra as obrigatoriedades femininas da época.


Ao repudiar a costura, as joias e o casamento, identificando sua felicidade na liberdade pelas florestas, ao lado de seus cavalos e apoiada nas criaturas e espíritos, assume uma postura feminista em uma época onde tampouco sonhava-se que as mulheres teriam outro destino senão a devoção a Deus em um convento ou a maternidade infinita em um casamento arranjado. Vasya, sobretudo, luta por sua capacidade de escolher: ainda que escolha a morte, se for uma escolha sua poderá morrer em paz.

Ainda que seja uma questão moderna, segue muito bem inserida em um contexto de ficção histórica que anda de mãos dadas aos contos de fadas, conhecidos erroneamente pela submissão de princesas e plebeias a um casamento real quando, na verdade, narram sobre suas liberdades de escolhas, sendo o verdadeiro final feliz a sua satisfação consigo mesma - ainda que ao lado de um príncipe, por que não?


Dentre os demais personagens da obra, as criaturas são as mais interessantes. A quem não conhece muito (ou nada) quanto ao folclore russo, o livro é uma excelente oportunidade de ter este primeiro contato com narrativas pouco comuns no ocidente, com seres geralmente invisíveis, mas de devida importância e relevância a sobrevivência de seu povo defendido.

Outro ponto muito bem apresentado no livro é a cegueira causada pela fé cristã, quando seus seguidores tornam-se obsessivos com uma ideia de salvação e misericórdia a ponto de agirem com maldade e crueldade, renunciando aos bons costumes para atender a um ego fanático e que, pelo medo, aproxima o povo do embusteiro e da perdição enquanto acreditam estar no caminho de seu deus - dado enfaticamente nos personagens de Anna e do padre, fiéis extasiados.


No Brasil a obra de Arden é publicada pela Editora Rocco, com tradução de Elisa Nazarian. Se você gosta de boas histórias de fantasia, mitologia e ascensão feminina, este livro é a pedida perfeita para se deliciar com uma jornada de autoaceitação muito bem elaborada que deixa um gostinho de quero mais - e não fica só no gosto, quando a sequência A Menina na Torre já está entre nós.


Este livro foi uma cortesia da Editora Rocco ao blog Elfo Livre.

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