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Jon Klassen e a sensibilidade semiótica do livro infantil ilustrado


Na última sexta-feira (06) a Livraria Nobel Sorocaba promoveu seu terceiro encontro sobre literatura infantil, mediado por Maria Cristina Perez Vilas, abordando as obras de Jon Klassen, escritor e ilustrador que tem se destacado no mercado editorial atual com prêmios como a Medalha Caldecott e a Kate Greenaway.

Entre seus trabalhos mais conhecidos, cita-se O Escuro (2013) e Pax (2016), no qual trabalhou como ilustrador para os livros de Lemony Snicket e Sara Pennypacker, respectivamente, mas a conversa foi direcionada para outros trabalhos seus, usando bases da semiótica para desvendar os segredos por trás do incrível objetivo subjetivo da literatura infantil, onde tudo possui um significado. 


Em Quero meu chapéu de volta (2011), primeiro livro da trilogia do chapéu, um urso teve seu chapéu roubado e, com a ajuda de outros animais, tenta encontrá-lo. Os diálogos são fechados, um quase idêntico ao outro, e essa é uma das principais graças da história, linguisticamente falando. Quando a semiótica entra em ação, as cores, principalmente a vermelha, ganham grande importância para o significado do livro.

Ele também compartilha conosco de uma incrível dinâmica de "mentiras e verdades", quando o texto diz algo falso, mas a imagem tem como função desmentir e comunicar o verdadeiro ao leitor. Essa dicotomia se repete na "sequência", Este chapéu não é meu (2012), que reprisa também a história de um roubo mas, desta vez, pelo ponto de vista do ladrão.


A sensibilidade da mediadora Cris entra como parte essencial para o debate sobre este livro, quando apresenta informações quanto a intertextualidade da obra com textos como O Coração Revelador, conto de Edgar Allan Poe, quando Klassen pega emprestado deste o seu principal elemento, o poder de persuasão, para convencer o leitor de que o personagem está fazendo algo certo quando, claramente, é errado.

Essa é uma importante questão de moral que, por sua vez, é uma característica intrínseca do autor, assim como brincar com elementos visuais em suas gravuras. Os olhos são extremamente importantes, e além da trilogia do chapéu, também estão presentes em Sam & Dave cavaram um buraco (2014), obra de co-autoria com Mac Barnett. 


Neste livro, as gravuras continuam ampliando os significados da história quando, enquanto vemos os personagens cavando o buraco em busca de um grande tesouro que nunca encontram, nós, leitores, externos, os vemos sendo deixados para trás. É um olhar, entretanto, que não nos é exclusivo: um cachorro que os acompanha na jornada, com todos os seus sentidos aguçados, torna-se nosso amigo na luta por tentar fazer os homens abrirem seus olhos - sempre em vão.

Em Triângulo (2017), percebe-se mais uma vez a dicotomia texto-imagem em parceria à questão moral. De inovador e criativo para as obras do autor, analisa-se em seus personagens, todos formas geométricas, as relações de suas personalidades com as das formas em que estão representados - o triângulo pontudo, que cutuca; enquanto o quadrado vive "dentro de seu quadrado", mais reservado. Os cenários colaboram com as mesmas formas geométricas, representadas na paisagem, em suas casas ou mesmo em porta-retratos fixados à parede. Pequenos detalhes que fazem toda a diferença e conquistam o leitor.


É importante perceber em suas obras, portanto, a grande teoria do livro ilustrado sendo aplicada: não são só desenhos que complementam o texto escrito, mas que são textos por si só e precisam ser percebidas, lidas e analisadas assim como as linhas por extenso, de igual importância. Engana-se quem ainda pensa que a literatura infantil, por comumente se associar à ilustração, é superficial. A subjetividade, o sentimentalismo e a semiótica presentes nessas obras são profundas e abrem portas para debates essenciais e frutíferos, como este.

Realizado em espaço disponibilizado na Livraria Nobel Sorocaba, os encontros são mensais e gratuitos para o público. A cada mês um autor é escolhido e suas obras são lidas, analisadas e comentadas durante a conversa em meio a delicadeza e sensibilidade que só o olhar apaixonado de Maria Cristina, a Cris, pode proporcionar.

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