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Kenobi apresenta ótima narrativa de ação sobre o exílio do Mestre Jedi


Kenobi é uma obra do universo expandido de Star Wars assinada por John Jackson Miller, autor que trabalha desde 2005 desenvolvendo novas histórias em romances e quadrinhos para a saga legends. Lançado em 2013, o livro nos apresenta a uma jornada solo de Obi-Wan durante seu exílio em Tatooine, com traços de narrativas de faroeste.

Os acontecimentos narrados nesta obra são datados pouco após os eventos de A Vingança dos Sith (Episodio III), quando o pequeno Luke é levado a Tatooine para ser cuidado por Owen e Beru Lars. Para manter as situação sob controle, Kenobi muda-se para a região a fim de manter vigilância para a segurança do jovem Skywalker.

Ainda assustado e confuso pelos acontecimentos recentes com Anakin, tenta manter-se discreto na pacata cidade, mas com todos os olhares voltados para o novo e misterioso habitante, isso é tudo o que o rapaz não consegue fazer, ainda mais ao envolver-se com Annileen, viúva que mantém um popular armazém local, mete-se em confusões que não esperava e precisará de muita concentração e força para poder lidar com tudo enquanto o poder corrompe alguns moradores locais - e o velho Obi-Wan precisa voltar a ação.


Há uma linha tênue que mostra na figura onde termina Obi-Wan, o mestre Jedi, e onde começa Kenobi, o homem que prefere viver no anonimato. A diferença entre as personalidades que quase formam dois seres distintos em um único corpo é dada, rusticamente momento, pelos momentos em que opta por empunhar seu sabre de luz ou manter-se nas sombras dos dois sóis.

Vimos muito de Obi-Wan nos filmes de Star Wars. Aquele homem sábio, centrado, que nunca se deixa pelas emoções. Neste livro, entretanto, vemos um lado mais humano deste Jedi exilado, desequilibrado pelos acontecimentos que deram fim à República, incapaz de não meter seu nariz nos novos incidentes de Tatooine que cercam a vida da Annileen, humana que encara problemas não só com o perigoso povo da areia, mas com Orrin, amigo de seu falecido marido que torna-se cada vez mais um incômodo para ela, sua família e, agora, para Ben Kenobi.

Embora a missão do apelidado "Ben Maluco" no planeta fosse apenas observar a curta distância o crescimento de Luke e estar preparado para defendê-lo na pior das hipóteses, seu envolvimento com a mulher o desestabiliza, gerando preocupações pessoais quanto a uma crescente paixonite quando relacionamentos amorosos são extremamente proibidos para os Jedi, precisando traçar novos limites para si mesmo e para os que o cercam. 


Busca, por meio de meditações, o apoio de Qui-Gon, unido com a Força após acontecimentos em Uma Ameaça Fantasma (Episódio I). As conversas nem sempre respondidas são como diários orais, em que Kenobi narra os acontecimentos de seu dia e, como em uma prece, tenta encontrar formas de manter a discrição e sua missão em segredo enquanto, como Jedi, sente-se responsável a ajudar o povo local, mesmo que isto custe a revelação de sua identidade.

O livro segue por uma estética bem faroeste, não só pela ambientação desértica e rural de Tatooine, mas pela caracterização de personagens como os bonzinhos, os vilões que tentam pagar de inocente, o povo nativo e, claro, o herói. Em brigas de bares pelo armazém local, o Lote, ou em batalhas no meio do nada, em estradas de areia, fica óbvia a referência aos populares filmes de "bang bang" dos anos cinquenta, ainda que a onomatopeia seja para para um "whoooom" de um sabre de luz em atividade.

Como obra do século vinte e um e parte do universo de Star Wars, entretanto, apresenta questões políticas e sociais, com a ascensão ao poder e queda, com o papel de Orrin e seu negócio de vaporizadores em fazendas de umidade, e a representatividade de minorias com com os Tuskens, raça nativa e nômade de Tatooine, geralmente hostil e forasteira, mas apresentadas na obra como as verdadeiras vítimas da narrativa.


Com isso, a personagem de Annileen não é a típica donzela que aguarda sua salvação. Annileen é uma mulher forte e decidida que conseguiu dar continuidade a sua vida após o falecimento de seu marido, criando os filhos sozinha, dando conta do armazém, de seus frequentadores e até mesmo da estranha figura de Orrin. Quando as coisas esquentam, não recusa a ajuda de Ben, com quem vem nutrindo sentimentos, mas não espera ordens de terceiros para colocar a mão na massa, agindo por conta própria sempre que lhe é conveniente.

Sendo provavelmente a personagem mais interessante do livro, é mais uma boa representatividade feminina em Star Wars, seguindo os passos das fortes Padmé, Leia, Rey e mesmo Jyn Erso, de Rogue One, mostrando que a saga sabe valorizar as forças de uma mulher com punhos severos e, ao mesmo tempo, deixá-la viver sua graça romântica. Profundas e bem construídas, como deve ser.

Apesar de ser considerado como conteúdo "legend", ou seja, não necessariamente fiel aos acontecimentos da linha do tempo dos filmes e que, portanto, pode ou não ser a verdadeira história do personagem, a narrativa do Jedi aposentado que atrai encrenca daria um ótimo enredo de filme, ainda mais em tempos em que todos cobramos a Lucasfilm e Disney por um filme solo do personagem que é um dos preferidos de todo o universo de Star Wars.


Enquanto continuamos sedentos por este momento, a leitura de Kenobi é uma boa forma de saciar a vontade de saber mais sobre o velho Jedi e responder a algumas perguntas que foram deixadas em branco nos filmes, quanto ao seu período de exílio, com o bônus de alguns conflitos pessoais que não tão provavelmente imaginaríamos serem vividos por um personagem tão estável e sereno quanto este, o que só nos prova que ainda há muito que queremos e precisamos saber sobre Obi-Wan. John Jackson Miller fez um trabalho soberbo que chegou ao Brasil por publicação da Editora Aleph.

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