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Creepshow: uma reconstrução dos cinemas para os quadrinhos, por Stephen King


Creepshow, popular filme do início dos anos 80, marcou a estreia de Stephen King como roteirista. A obra dirigida por George A. Romero teve como inspiração os quadrinhos dos anos 50 e, muitos anos mais tarde, King retoma a sua obra para adaptá-la ao formato de quadrinhos, em um perfeito ciclo metalinguístico entre as duas criações. 

Com arte de Barbie Wrightson e capa assinada por Jack Kamen, autor da EC Comics que foi um dos principais frutos de inspirações para o autor décadas atrás, esse novo formato de Creepshow traz de volta aos fãs cinco histórias de arrepiar. com a ilustre participação de um narrador morto-vivo que quebra a quarta barreira, se comunica com o leitor e apresenta alguns comentários sarcásticos ou tóxicos que combinam perfeitamente com o clima da obra antológica, macabro. 


Dia dos Pais

No dia dos pais, uma tia-avó distante, matriarca do clã, volta para visitar seus parentes e o túmulo do pai, assassinado pela própria após anos aguentando calada todo o sofrimento incluso em ser sua filha, embora ainda hoje seja atormentada pela culpa - e fantasmas do passado literalmente voltarão para assombrá-la e os demais membros desta família.

Esse conto não chega a ser exatamente surpreendente, seguindo um fórmula bastante popular para histórias de terror do século passado e que continuam em alta até hoje, mas a questão familiar, a herança de rumores sombrios e o retorno dos mortos para "completar uma missão" sempre serão temas interessantes de se apreciar. 


A Solitária Morte de Jordy Verrill

Um simplório camarada que mora no topo de uma montanha acompanha a queda de um meteoro e vê neste a chance de mudar sua vida para melhor, com a meta de vendê-lo para bancar suas contas, mas sequer poderia imaginar que este incidente "caído dos céus" teria um desfecho muito mais trágico para si e sua vida pacata.

As falas gramaticalmente incorretas, mas sociolinguisticamente aceitas de um dialeto caipira fazem-se presentes na obra, tornando a leitura mais aproximada da comunicação verdadeira do personagem, no estilo Chico Bento. Em certos momentos a obra chega a ser cômica, mas de um modo ainda intrigante e com certeza sinistra, conforme "a coisa" se desenvolve e causa alguns arrepios no leitor.


A Caixa

O zelador de uma faculdade finalizava seu trabalho do dia quando encontrou uma caixa datada do século XIX escondida sob a escadaria. Imaginando que possa haver algo interessante dentro da mesma, chama um professor do setor de ciências para ajudá-lo a abrir e investigar, mas acabam por liberar uma criatura assustadoramente faminta.

Considero este um dos mais interessantes da antologia por ter uma história de plano de fundo, ao contrário das outras, quando um dos personagens também está passando por problemas com sua esposa e, no minimo dos spoilers possíveis, se aproveita da situação para dar a volta por cima de um modo bastante psicopático.


Indo com a Maré

Após descobrir que está sendo traído Richard Vickers, mesmo sem amar mais sua esposa, resolve colocar um fim bastante dramático, desumano e subaquático no caso dos dois, acompanhado de uma filmadora, um aparelho televisivo e contando com o trabalho da maré em subir e finalizar o que começou em terra. Mas ninguém contava com o que aconteceria depois.

Menos dramático que a versão audiovisual, mas ainda difícil de acompanhar com a sufocante narrativa da maré que lentamente consome lentamente o casal, tornando realidade a vingança milimetricamente planejada pelo velho Richard. O desfecho ao estilo trash faz jus aos filmes da década em que este texto foi originalmente produzido.


Vingança Barata

O velho Upson é extremamente rico e vive em um apartamento à prova de germes, mas seu pavor por insetos será testado a níveis extremos quando, após colaborar indiretamente com o suicídio de um rapaz, vivencia uma infestação de baratas que atacam às escondidas.

Achei este bem mais interessante que a versão do filme por, a cada quadrinho, mostrar as baratas escondidas do campo de visão do personagem, dando ao leitor uma visão privilegiada da desgraça iminente e extremamente apavorante - quem não tem um medinho de baratas que atire a primeira pedra.


Em resumo, achei a HQ bem mais interessante que o filme, exceto pela quarta história. Destaco, entretanto, como cada obra em um atrativo e um contraponto: no filme, senti certa falta dos comentários do narrador, adicionados por King somente nesta versão mais recente e que me incomodaram em certos momentos dos quadrinhos pelo excesso de trocadilhos ou xingamentos. Quase hipócrita da minha parte.

Adorei ainda o modo como, mesmo décadas mais tarde, os quadrinhos complementam o filme em uma relação metalinguística, já que a obra audiovisual é iniciada com um personagem mirim que está se aventurando pelas páginas da HQ - e, agora, ele integra a capa da obra em um incrível trabalho de recriação por Jack Kamen, com referências a outras obras de Stephen King, como O Iluminado e Carrie, a Estranha.

Já sabíamos que Stephen King tem um talento imenso para romances, contos e roteiros, mas vê-lo trabalhar pela primeira vez com quadrinhos foi uma surpresa bastante prazerosa. A arte de Wrightson colabora bastante para dar o tom macabro em um misto de realismo e expressões excessivamente dramáticas que retomam aos traços esquecidos nos anos 50~80 e, com o apoio da escrita de King, o politicamente incorreto da mesma época. Um trabalho imperfeitamente impecável de reconstrução de uma era que pode ou não funcionar com o leitor contemporâneo.



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