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Literatura infantil é para todas as idades


18 de abril marca o Dia Nacional do Livro Infantil, data escolhida em comemoração ao aniversário de nascimento de Monteiro Lobato, escritor percursor da literatura escrita para os pequenos no Brasil com a sua obra Reinações de Narizinho, que culminou na aclamada franquia Sítio do Pica-Pau Amarelo, posteriormente adaptada para a televisão em diversos formatos, além de ter seus livros comercializados para o exterior em traduções e adaptações. 

A Literatura Infantil, entretanto, essa que nos abre tantas portas para a imaginação e criatividade, passa a ser renegada a partir de certa idade. As pessoas são constantemente julgadas por seus hábitos relacionados ao consumo de literatura, e ler obras infantis na adolescência ou na vida adulta é algo mal visto. Mas por que as coisas precisam ser assim?, eu me pergunto. Elas não precisam. Ou melhor, não deveriam.

A Literatura Infantil propriamente dita só começa a surgir entre os séculos XVII e XVIII, na Europa, mais precisamente na França, quando Charles Perrault surge com a iniciativa de editar as narrativas folclóricas orais dos camponeses, suprimindo as passagens violentas e obscenas de modo a adequá-las à audiência da corte do rei Luís XIV, que foram reunidas no livro "Histórias ou contos do tempo passado, com suas moralidades: Contos de Mãe Gansa", publicado em 1697.

Na mesma época surge o resgate histórico das Fábulas de Esopo com La Fontaine, também na França, enquanto na Alemanha os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, a partir de sua pesquisa linguística que reuniu um apanhado de narrativas na coletânea Literatura Clássica Infantil. O dinamarquês Hans Christian Andersen chega em XIX, misturando o folclore nórdico com conteúdo autoral próprio, que deram origem a histórias conhecidas nossas, como O Patinho Feio e Soldadinho de Chumbo.

A literatura infantil começa a se expandir também para a América, com Frank Baum e seu livro O Mágico de Oz. No século XX aterrissa em território brasileiro com os escritos de Monteiro Lobato, homenageado da data, que não só escreveu o Sítio do Pica-Pau Amarelo como adaptou para o folclore e costumes nacionais alguns sucessos estrangeiros, como Alice no País das Maravilhas, do britânico Lewis Carroll.

Neste cenário, no mesmo século, foi vivenciada ainda a chegada e popularização do cinema: os estúdios Walt Disney passam a representar as narrativas literárias infantis em adaptações animadas que encantam os olhos não só do público infantil, mas dos adultos também. Afinal, quem não se rende aos encantos de um conto de fadas? Essas romantizações caíram no gosto do público de todas as idades, mas não é só disso que a Literatura Infantil vive.

Esse gênero que nasceu meio sem jeito, em meio a contexto de meramente passar histórias de moral e ética a crianças assustadas, hoje em dia, mais do que nunca, a Literatura Infantil vive o seu momento de educar e ensinar, mas com a malemolência necessária que foi tomando cor e forma ao longo dos séculos, desde sua primeira aparição.

Assim, hoje temos livros infantis que entretêm e ao mesmo tempo traduzem para uma linguagem simplificada e subjetiva mensagens de alta importante para a sociedade contemporânea. O mais recente exemplo que podemos citar é A Parte que Falta, de Shel Silverstain, que em meio a traços infantis e poucas palavras em fontes garrafais, faz a história de um círculo incompleto discutir a incompletude humana e essa ambição tão intrínseca nossa de nunca nos satisfazermos com a nossa situação, de sempre buscarmos mais, e muitas vezes nos iludirmos com a ideia de que esse "mais" está em outra pessoa, e não em nós mesmos, sem nos darmos conta de que, muitas vezes, já estamos completos.

Muitos livros ainda discutem gênero, pluralidade familiar, questões raciais e preconceitos em geral, colaborando, por meio da leitura, a criar uma geração menos preconceituosa e mais aberta para as diferentes formas de expressão do eu. Tudo com uma linguagem modesta e apoio de ilustrações, tornando-o atrativo as crianças e sem menosprezar ou supervalorizar sua capacidade de entendimento, mas com extremo respeito ao universo infantil da criança e de preservação de sua infância, com a fantasia, as cores e a ludicidade a acompanhar as necessárias discussões.

Essa criança pode, de forma independente, escolher alguma obra em meio a biblioteca de sua escola, na vasta Internet ou mesmo dentre os livros já previamente comprados e apreciá-la sozinha, sem a intervenção de um responsável, confiando meramente em si e desafiando-se neste mergulho repleto de diversão e ensinamentos que só o favorecem.

Mas ainda é seguro afirmar que tais livros são mais prováveis a chegaram às crianças por intermédio de algum adulto, seja ele um professor ou familiar, que abordará o livro durante uma aula/conversa dedicada a tal tema ou simplesmente tentará incentivar a leitura do pequeno por meio de algum "mais vendido" do momento, deixando ou não a discussão central de lado para dar ênfase às coloridas figuras em vez de desentrelaçar os nós criados pela subjetividade, tornando seu significado mais entendível para a criança, ou até mesmo fazendo os dois.

São inúmeras as possibilidades de guiar a criança ao deleite de um bom livro, assim como são infinitos os ensinamentos que estes livros podem promover mesmo que aos mais velhos, seja do mero resgate ao interesse pela leitura, seja do amplo entendimento de suas palavras simbólicas que, no plano de vida adulto, fazem todo o sentido e nos tocam no fundo da alma, nos representam ou nos fazem sentir nostalgia da inocência e pureza humana que já não nos pertence mais, mas que podemos pegar emprestada em alguns momentos. 

Ou não podemos, segundo as más línguas. Afinal, estamos na idade de ler filósofos e colocar a cabeça para pensar, mas somente pensar em clássicos: livros contemporâneos e destinados ao público jovem não possuem capacidade para tal. São fracas. São vendidas. Apenas frutos de um mercado capitalista que só visa o dinheiro e nada mais. Enganam-se eles: estas obras são riquíssimas.

Por que na vida adulta é tão desmerecida a leitura de uma obra infantil se não apenas como ponte a transmitir sua mensagem a uma criança? Por que os adultos não podem se orgulhar dos devaneios e aprendizados adquiridos em um texto tão profundo quanto de algo criado para o público infantil? O público-alvo de uma obra pode dizer, a partir de certos estereótipos, quem será mais atingido pelo seu conteúdo, mas nada proíbe o público geral de ir além e tomar proveito de narrativas que, inicialmente, talvez não lhe sejam recomendadas.

Somente nós podemos dizer a nós mesmos se tal livro é ou não recomendado para nós. E, mesmo que não nos seja a nós mesmo, que mal há em vez ou outra desejar sair da linha um pouquinho para encarar novos desafios ou voltar-se a uma zona de conforto e guilty pleasures? A literatura tem que ser livre. Temos que ser livres dentro da literatura.

Em meio a esse discurso, nos encontramos ainda em uma pauta recente, revelada ainda ontem conforme o novo infográfico da Tag Livros veio em, com seu sistema elitista, separar a "alta literatura" da de "best-sellers" e segregar todo um público. com base em conceitos preconceituosos e míticos que, nas entrelinhas, coloca o público da dita "literatura de mercado" em uma caixinha fechada etiquetada com os dizeres "incapazes de pensar". Gigantesca decepção.

Triste saber que, em 2018, ainda precisamos discutir a importância dos livros, independente de seu gênero, para o desenvolvimento crítico-social dos seres. Triste saber que, em 2018, ainda temos pessoas que segregam as literaturas por equipes de "fortes" e "fracos". Triste saber que, em 2018, enquanto buscamos meios de incentivar a leitura em nosso país, tenhamos pessoas que prefiram voltar suas forças para pensamentos ultrapassados e segregadores. Muito triste. 

Literatura é Literatura. Seja ela infantil, juvenil, best-seller, canônica ou qualquer outra coisa: não importa. Ela estará lá para quem quiser ler, quando quiser ler, e não há de julgar pessoas baseando-se em seus gostos literários. Quanta superficialidade. Quanta chatice!

Vai ter adulto lendo Literatura Infantil sim!

Literatura Infantil é para todos.

Literatura é para todos. 

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2 Comentários

  1. Eu sou uma eterna fã de literatura infantil e jovem.
    Who cares?
    Silvia Orthof é minha autora favorita e escreve para crianças, ai tb tem JK,Rick Riordan entre outros.

    Beijinhos
    Blog Menina Caprichosa | Canal Youtube | Facebook | Insta

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    Respostas
    1. YA é meu gênero preferido e não recuso um bom livro infantil. Não tem essa de idade limite: livro é livro e eu vou ler! <3

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