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Grama, uma HQ sensível sobre a memória das mulheres de conforto

Grama, uma HQ sensível sobre a memória das mulheres de conforto

Escrita e ilustrada por Keum Suk Gendry-Kim, Grama é uma HQ inspirada na história real das mulheres de conforto, garotas forçadas à prostituição em bordeis militares durante a Segunda Guerra Mundial. Os quadrinhos, originalmente publicados em 2019, chegaram às livrarias brasileiras em 2020 com edição pelo selo Pipoca & Nanquim.

Para esta história, Keum conversa com Ok-sun Lee, uma senhora de idade que hoje mora na Casa de Partilha, um lar de idosas sobreviventes da escravidão sexual. Através de seus relatos, a conhecemos ainda infância, quando foi enganada e vendida pela própria família. Ela, que só queria estudar, acredita nas promessas de uma vida melhor, mas logo se vê longe de casa, diariamente violentada de diversas formas.

O projeto ganha um tom de livro-reportagem ao apresentar um misto de flashbacks e cenas atuais, na qual a própria autora se transforma em personagem ao se desenhar durante suas entrevistas com Ok-sun Lee, em meio a liberdade poética que toma ao tentar passar para o papel as dolorosas memórias dessa vovó que, segundo ela própria, nunca teve felicidade em sua vida

Grama, uma HQ sensível sobre a memória das mulheres de conforto

Keum descreve que é difícil fazer a vovó se abrir, mas quando ela resolve falar, os relatos são de dor profunda. Grama não é uma história alegre, passando por diversos estágios do sofrimento e por todas as dores, enganos e momentos de desespero que Ok-sun Lee passou não só dentro dos bordéis, mas também em suas tentativas de tentar reconstruir sua vida após a libertação: ela ainda estava presa dentro de si e dentro dos preconceitos de uma sociedade que a via apenas como uma prostituta, ignorando sua história e sua verdade.

Mas Keum não ignorou essa verdade. Verdade, aliás, não só de Lee, mas de todas as mulheres que passaram por ela e também ganharam um destaque em Grama, graças a sensibilidade de Keum em registra-las de forma intimista, mas sem necessidade de apelos gráficos. Keum soube dosar o pincel para contar a história sem romantiza-la, mas também sem usar Lee, mais uma vez, para chocar os leitores.

Não que não seja uma leitura desconfortável: sim, não é fácil ler Grama e digerir que todas essas atrocidades não são mera ficção, mas sim um retrato da história do mundo. E um retrato muito pequeno: 500 páginas não são suficientes para absorver toda a dor daquela época. Mesmo assim, Keum se esforça para que sua narrativa não seja mais um fardo. 

Grama, uma HQ sensível sobre a memória das mulheres de conforto

No posfácio, Keum comenta sobre sua decisão de trazer um pouco de "leveza a uma história carregada de brutalidade" que, para ela, é "sobre o significado de ser humano". Dentre essas sutilezas adotadas pela autora, o próprio título da obra se destaca: "Mesmo derrubada pelo vento e pisoteada por muitos, a grama sempre se reergue", em referência a todas as mulheres de conforto que seguiram em frente, apesar de todo o sofrimento.

Sofrimento, este, que ainda não findou: extremamente atual, o livro não deixa de lado que a história ainda continua, com mulheres como Ok-sun Lee que assumem posições de ativistas, lutando pelos direitos não apenas delas próprias, mas também das mulheres de conforto que já faleceram sem a chance de serem indenizadas da forma adequada ou ao menos receberem desculpas sinceras, além de que o Japão assuma responsabilidade pelo ocorrido.

O livro também não deixa de questionar o termo "mulheres de conforto", um eufemismo para a escravidão sexual de mulheres, não só coreanas, forçadas a servirem militares japoneses. Dentre os questionamento, revela-se o machismo da expressão, tal como ela só descrever a perspectiva do Exército Imperial Japonês, que ia aos bordéis atrás de conforto, distorcendo a experiência das vítimas. No entanto, como o termo é amplamente disseminado na Coreia do Sul e no mundo, também, a nota de tradução destaca que foi preferível mantê-lo, visto que ele designa essa forma específica de escravidão sexual.

Grama, uma HQ sensível sobre a memória das mulheres de conforto

Só essa nota já deixa nítido que houve todo um cuidado da equipe do Pipoca & Nanquim para que essa obra chegasse às mãos do público brasileiro de forma mais íntegra possível, respeitando a história nela contada e todos aqueles por trás dela. Traduzida diretamente do coreano por Jae HW, vale a pena conferir Grama e essa história que precisa ser aprendida para que jamais se repita.

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