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Jogador Nº 1 brinca com referências geeks e realidade virtual em adaptação de Spielberg


Baseado no livro homônimo de Ernest Cline e dirigido por Steven Spielberg, Jogador Nº1 nos guia a uma versão futurística e distópica da Terra quando, em 2044, o protagonista Wade Watts (interpretado por Tye Sheridan), assim como o resto da humanidade, prefere passar os dias na realidade virtual do jogo gratuito OASIS do que no mundo real, que encontra-se em tremendo caos. Ao morrer, James Hallidey, criador do OASIS, deixa aos jogadores um grande desafio: quem conseguir encontrar as três chaves, passar pelos três portões e encontrar o easter-egg escondido no jogo herdará sua trilionária fortuna.

Entretanto, cinco anos já se passaram e ninguém conseguiu encontrar sequer a primeira chave e muitos jogadores já desistiram do desafio. Os que continuam, são duramente criticados pela mídia e pelo público geral como "nerds em vida", tudo isso até Watss, sob seu apelido virtual Parzival, encontrar a primeira chave e retomar a loucura mundial em cima do jogo. Para vencer, precisará não somente colocar em prática os seus conhecimentos sobre a cultura pop mundial, mas lutar contra os membros da IOI, uma organização que utiliza métodos impróprios - sendo esta comandada por Sorrento, o grande vilão do filme, cuja motivação é colocar sua empresa no topo do controle da economia mundial ao tornar o acesso ao OASIS pago.


Em meio a todo esse cenário futurista e distópico, o filme consegue apresentar ainda a importância de valores como a amizade, companheirismo e confiança. Embora nossos cinco protagonistas sejam jogadores independentes, e não membros de clãs, descobrem a força que as inter-relações possuem, mas também encontrarão nelas novos desafios. Conforme a relação entre Parzival e Art3mis desponta - com maior ênfase no filme do que no livro, uma vez que a adaptação cinematográfica tenta aumentar a presença e importância da feminina -, nos deparamos com o fato de que o romance é uma necessidade tão intrínseca do ser humano que consegue se sobressair mesmo em experiências de vida ou morte.

O filme conseguiu, ainda, trazer a força das referências presentes na obra original com um diferencial próprio, a atualidade. Enquanto o livro trabalha 100% com a cultura popular e geek dos anos 80, sua adaptação cinematográfica transporta o gênero para a atualidade, inserindo easter eggs, por exemplo, de jogos como Minecraft e Overwatch, que despontaram e conquistaram gamers de todo mundo após 2010. Com isso, peca contra a adoração aos anos 80 presente no livro, mas em uma tão escala pequena que não apresenta nada que seja crucial para acabar com a nova narrativa, somente complementar o cenário com a aparição de elementos mais recentes e, em condições mercadológicas, atingir também a nova geração de consumidores geeks ao aliviar a carga referencial que, para o público mais jovem, pode ser um pouco confusa.


Reduz a chuva de informações presentes no texto de Cline, mas os principais pontos seguem com a fidelidade a década de 80, conforme o livro, e deixam o espectador, independente de sua idade, ansioso para chegar em casa e, mesmo que via emuladores on-line, como os disponíveis no próprio site de Ready Player One, divertir-se com os jogos atemporais originalmente programados para Atari.

Se no livro, sem o suporte visual, já era possível ser transportado para a narrativa de ação das longas batalhas e jogatinas em que os personagens estavam envolvidos, o filme enfatiza isso ao máximo. A elaboração de novos desafios para encontrar as chaves e portões caminham por esta mesma estrada, visando, ao trocar 256 níveis de Pac-Man por uma imersão em O Iluminado (1980), colocar um novo dinamismo que, para o cinema, talvez seja mais interessante.


Steven Spielberg é um dos grandes homenageados por Ernest Cline no livro, sendo citado na lista de diretores cinematográficos preferidos de Halliday, assim como sua franquia Indiana Jones é muito citada e referenciada ao longo do texto. Ironicamente, é ele quem dirige Jogador Nº1 e, sendo responsável por grandes sucessos dos anos 80, tem toda a aptidão necessária para este novo trabalho e o realiza com maestria.

O trabalho de Spielberg como diretor fica muito mais fácil quando entra em cena o jovem Tye Sheridan, que já atuou em filmes Como Sobreviver a um Ataque Zumbi (2015) e X-Men: Apocalipse (2016), que interpreta o protagonista Wade/Parzival. O rapaz de 21 anos exala a personalidade de seu personagem por todos os poros, e graças a seu histórico de atuações já é possível encaixá-lo dentro do contexto do "cinema geek" sem grandes dificuldades. Olivia Cooke, de Bates Motel (2013-2017) e Ouija (2014), entra como sua parceria de cena, Art3mis, e também deposita uma boa performance para o longa. Seus personagens, ainda que interajam mais pelo universo virtual do OASIS, com suas aparências fictícias, demonstram uma boa química.


Por parte do filme ser passada dentro da realidade virtual, houve um gigantesco gasto financeiro para a realização dos os efeitos visuais de computação gráfica, mas não decepciona é nada. Durante as cenas passadas no OASIS, a sensação do espectador, mesmo em uma experiência 2D, é de que o filme realmente está sendo gravado dentro de um jogo, com a presença de inúmeros avatares, lugares e objetos que variam entre criações originais de seus jogadores ou skins padrões copiadas de filmes, seriados, jogos e quadrinhos de diferentes eras.

Essa troca entre as cenas do OASIS e as cenas do mundo real não são em nada bruscas e não deixam a trama confusa, ao contrário do receio que grande parte dos espectadores tinham antes de colocar seus pés no cinema. Tudo é muito bem colocado e representado para não cansar quem assiste e o resultado é, de fato, extremamente positivo. Cada centavo do ingresso vale a pena.


Apenas em sua semana de estreia a produção arrecadou um total de US$180 milhões, sendo US$53 milhões nos Estados Unidos e o restante ao redor do mundo, já cobrindo - e com lucro - orçamento total de produção (fora gastos em divulgação), que são estimados em US$ 175 milhões. Foi a maior bilheteria de Spielberg nos Estados Unidos desde Indiana Jones 4, em 2008. No Brasil, o filme estreou em segundo lugar, ficando atrás apenas de Nada a Perder, cinebiografia do bispo evangélico Edir Macedo, que teve bilheteria inflada, com números reais de espectadores na sessão inferior ao número total de vendas. Jogador Nº1, entretanto, já é considerado um sucesso nacional e internacional e a previsão é de que, para as próximas semanas de abril, o longa continue a gerar lucros para sua produtora, Warner Bros. Entertainment.

O sucesso do longa se comprova não somente pela bilheteria, mas pelas críticas altamente positivas que tem recebido desde sua estreia para a imprensa especializada americana, na primeira quinzena de março. 
O público geral também tem demonstrado grande empolgação com o filme. No AdoroCinema, o filme conquista uma média 4,2 dos usuários enquanto, no Filmow, é apresentado valor similar de 4,1. Não é demonstrado cansaço em relação a crescente onda de produções que apelam para o fanatismo e nostalgia, a la Stranger Things. Muito pelo contrário, prova-se que enquanto houver pessoas interessadas em criar este tipo de conteúdo, terá um total ainda maior de pessoas dispostas e investirem seu dinheiro nessas obras, e eu sou claramente uma destas.

A versão cinematográfica de Jogador Nº1 é, portanto, uma ótima adaptação propriamente dita, que consegue captar a mensagem do livro, seus elementos e aspectos mais importantes e converter para a linguagem do cinema e de seu público-alvo vigente sem grandes perdas graças ao rebolado de Spielberg, do roteirista Zak Penn e do próprio autor Ernest Cline, que manteve-se ativo no processo de produção do longa. O impactante resultado, com forte em ambos visual e erado, pode - e deve - ser conferido nos cinemas.

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